segunda-feira, 30 de maio de 2011

Diga tudo que lhe vem à cabeça ...

O singular método psicoterápico que Freud praticava e designa de psicanálise é proveniente do chamado procedimento catártico, sobre o qual ele forneceu as devidas informações nos Estudos sobre a Histeria, de 1895, escritos em colaboração com Joseph Breuer. A terapia catártica foi uma descoberta de Breuer, que, cerca de dez anos antes, curara com sua ajuda uma paciente histérica e obtivera, nesse processo, uma compreensão da patogênese de seus sintomas. Graças a uma sugestão pessoal de Breuer, Freud retomou o procedimento e o pôs à prova num número maior de enfermos. O procedimento catártico pressupunha que o paciente fosse hipnotizável e se baseava na ampliação da consciência que ocorre na hipnose. Tinha por alvo a eliminação dos sintomas patológicos e chegava a isso levando o paciente a retroceder ao estado psíquico em que o sintoma surgira pela primeira vez. Feito isso, emergiam no doente hipnotizado lembranças, pensamentos e impulsos até então excluídos de sua consciência; e mal ele comunicava ao médico esses seus processos anímicos, em meio a intensas expressões afetivas, o sintoma era superado e se impedia seu retomo. Os dois autores, em seu trabalho conjunto, explicaram essa experiência regularmente repetida, afirmando que o sintoma toma o lugar de processos psíquicos suprimidos que não chegam à consciência, ou seja, que ele representa uma transformação ("conversão") de tais processos. A eficácia terapêutica de seu procedimento foi explicada em função da descarga do afeto, até ali como que estrangulado", preso às ações anímicas suprimidas ("ab-reação"). Mas esse esquema simples da intervenção terapêutica complicava-se em quase todos os casos, pois viu-se que participavam da gênese do sintoma, não uma única impressão ("traumática"), porém, na maioria dos casos, uma série delas, difícil de abarcar.

Assim, a principal característica do método catártico, em contraste com todos os outros procedimentos da psicoterapia, reside em que, nele, a eficácia terapêutica não se transfere para uma proibição médica veiculada por sugestão. Espera-se, antes, que os sintomas desapareçam por si, tão logo a intervenção, baseada em certas premissas sobre o mecanismo psíquico, tenha êxito em fazer com que os processos anímicos passem para um curso diferente do que até então desembocava na formação do sintoma. As alterações que Freud introduziu no método catártico de Breuer foram, a principio, mudanças da técnica; estas, porém, levaram a novos resultados e, em seguida, exigiram uma concepção diferente do trabalho terapêutico, embora não contraditória à anterior.
O método catártico já havia renunciado à sugestão, e Freud deu o passo seguinte, abandonando também a hipnose.. Atualmente, trata seus enfermos da seguinte maneira: sem exercer nenhum outro tipo de influência, convida-os a se deitarem de costas num sofá, comodamente, enquanto ele próprio senta-se numa cadeira por trás deles, fora de seu campo visual. Tampouco exige que fechem os olhos’ e evita qualquer contato, bem como qualquer outro procedimento que possa fazer lembrar a hipnose. Assim a sessão prossegue como uma conversa entre duas pessoas igualmente despertas, uma das quais é poupada de qualquer esforço muscular e de qualquer impressão sensorial passível de distraí-la e de perturbar-lhe a concentração da atenção em sua própria atividade anímica.
Como a hipnotizabilidade, por mais habilidoso que seja o médico, reside sabidamente no arbítrio do paciente, e como um grande número de pessoas neuróticas não pode ser colocado em estado de hipnose através de procedimento algum, ficou assegurada, através da renúncia à hipnose, a aplicabilidade do método a um número irrestrito de enfermos. Por outro lado, perdeu-se a ampliação da consciência que proporcionava ao médico justamente o material psíquico de lembranças e representações com a ajuda do qual se podia realizar a transformação dos sintomas e a liberação dos afetos. Caso não fosse encontrado nenhum substituto para essa perda, seria impossível falar em alguma influência terapêutica.



Freud encontrou um substituto dessa ordem, plenamente satisfatório, nas associações dos enfermos, ou seja, nos pensamentos involuntários quase sempre sentidos como perturbadores e por isso comumente postos de lado que costumam cruzar a trama da exposição intencional. Freud abandona a hipnose como método terapêutico por três motivos: nem todas as pessoas são susceptíveis de serem hipnotizadas; os resultados eram pouco duráveis; o doente não tinha um papel ativo no processo de cura. Estas limitações levam à descoberta das associações livres de ideias. A associação livre de ideias é um método que Freud desenvolveu com os seus pacientes. Este método consiste em os doentes exprimirem livremente aquilo que sentem sem se preocuparem o sentido das afirmações. Freud pensava que bastaria despertar na consciência recordações recalcadas, para que o paciente conseguisse libertar as emoções congregadas em torno dos sintomas. Com a ajuda do psicanalista, o analisando irá descobrir a linha explicativa dos seus sentimentos, ou sofrimentos. O objetivo deste método, seria recordar e/ou reviver os acontecimentos traumáticos recalcados, interpretá-los e compreendê-los, de forma a dar ao ego a possibilidade de um controlo sobre as pulsões. Este processo deveria processar-se num cenário adequado: um divã onde o paciente se deitaria para relaxado falar de tudo o que lhe apetecer. Mesmo o que lhe pareça insignificante deve ser contado. Por detrás do divã, encontra-se o psicanalista, que escuta com atenção o que o paciente conta, tentando compreendê-lo. Fala pouco, mas reenvia ao doente pertinentes interpretações. A análise pode causar sofrimento ao doente, quando isso acontece, o paciente resiste.

Cabe ao psicanalista favorecer o ultrapassar da resistência, isto é, tentativa de impedir ou adiar a vinda ao consciente do material recalcado. Este processo (resistência), está relacionado com a importância que os acontecimentos têm na realidade ou na fantasia do indivíduo. É a compreensão do processo interno e a relação com o analista que vão permitir ultrapassar a resistência. A atualização de sentimentos e emoções, como desejos, medos, ciúmes, invejas, ódios, ternura e amor, que na infância eram dirigidos aos pais e aos irmãos, são agora transferidos para a relação com o analista. As relações imaturas e infantis são como que repetidas e actualizadas através do processo de transferência. A transferência pode ser positiva ou negativa conforme o tipo de sentimentos relativos ao terapeuta. O psicanalista compreendendo e sentindo, através do processo de contratransferência, esta passagem de sentimentos, vai pela interpretação, devolver ao analisando a ligação desses sentimentos transferenciais com o que se passou na infância.

Referências:



Nenhum comentário: